Memorial Casa João Goulart

Memorial Casa João Goulart

A preservação do patrimônio histórico e cultural é uma discussão considerada cada vez mais importante para a sociedade atual, e com essa finalidade foi criado um memorial em homenagem ao ex- presidente do Brasil, João Goulart, o Jango, em sua cidade natal São Borja no Rio Grande do Sul

O museu foi instalado na casa onde viveu Jango e seus familiares. O imóvel foi construído em 1927 e remonta o modo de vida de famílias mais abastadas financeiramente daquela época. O ponto de valorização da casa da família Goulart se refere ao importante período histórico e político vivido no Brasil no tempo em que Jango foi presidente. Alguns cômodos da casa se tornam bastante peculiar em virtude de não serem mais comuns ou usuais na atualidade, por exemplo, o oratório, que por sua vez expressa a religiosidade daquela família e o modo de comportamento da época.

Outra peculiaridade do imóvel é a ligação entre várias peças com outras através de portas, por que um cômodo possui uma porta para o corredor e uma para outro. Isso era comumente presente nos quartos onde as moças dormiam como forma de preservar a segurança delas. Na área externa da casa existe um grande jardim, com árvores frutíferas e ornamentais, alguns canteiros para flores e um em especial, escrito no formato do apelido da mãe de Jango, Tinoca, no qual presta uma carinhosa homenagem a ela.

Outro detalhe estético que se destaca na propriedade é parte do telhado, que possui um alongamento em telhas bordadas, cuja beleza evidencia o poder aquisitivo dessa família, esse adorno chama-se eira e beira, bastante característica da classe média e alta daquele período histórico. O museu conta com uma bela estrutura que remonta a vida de João Goulart e de sua família, além de auxiliar as gerações atuais a compreender o modo de vida da sociedade no início do século XX.  

A casa foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, o IPHAE, pela Portaria nº 03/ 94, publicada em 07 de Setembro de 1994, a partir de  2006 foi iniciado um estudo de restauração em parceria do poder público e empresas privadas. O projeto de restauro e a conclusão das obras demonstra o importante potencial cultural da história e a possibilidade de fomentar o turismo cultural em São Borja.

 João Goulart

João Belchior Marques Goulart, mais conhecido pelo apelido de infância Jango, foi presidente e político brasileiro em um período histórico de grande movimentação nas bases políticas nacionais. Jango nasceu em 1º de Março de 1918, na Fazendo do Iguariaça, no então distrito de Itacurubi, no interior da cidade de São Borja. Foi o sexto dos nove filhos do estancieiro Vicente e Vicentina Goulart, mais conhecida por dona Tinoca.

Jango iniciou seus estudos em Itaqui, cidade vizinha de São Borja, posteriormente em Uruguaiana e concluiu em Porto Alegre, formando-se no curso de Direito em 1939, porém não exerceu o ofício, pois dedicou- se às atividades agropecuárias nas propriedades rurais da família. Jango também gostava de esportes, foi jogador de futebol na equipe infanto- juvenil do Sport Club Internacional em Porto Alegre, porém foi acometido de uma doença que afetou seu joelho esquerdo, interrompendo sua participação efetiva no futebol.

Em 1945 após a morte de seu pai, Jango intensificou suas atividades na fazenda, mostrou ser um bom administrador, e em dois anos conseguiu aumentar seu patrimônio. Além disso, Jango também foi empreender, sendo proprietário de uma empresa de Taxi Aereo, em São Borja, assim como uma um jornal e emissora de rádio, assim conquistou popularidade na região. Getúlio Vargas em 1945, após sair da presidência da republico, voltou para São Borja, também cidade natal, e nesse momento se aproximou de Jango, o qual foi seu mentor político. Convencido por Vargas, Jango concorreu a Deputado Estadual em 1947, sendo eleito no pleito. Em 1951 Jango conheceu Maria Thereza Fontella, o qual se casou em 1955 e no longo do casamento, tiveram dois filhos, Vicente e Denise. Jango ao se tornar político conhecido, precisou dedicar mais intensamente à carreira.

O político

O primeiro contato de Jango com a política foi aos dezessete anos, em 1945, quando fez um discurso para recepcionar Getúlio Vargas em um churrasco oferecido por seu pai de Jango, em São Borja. Vargas, ficou convencido do talento de Jango para a política, e o fez  um de seus homens de confiança. Logo Jango já era um político conhecido na região.

Em 1947 foi eleito Deputado Estadual Constituinte pelo Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, em 1950 Deputado Federal e posteriormente foi nomeado Secretário de Estado do Interior e Justiça. Durante o último governo de Vargas, de 1953 até 1954, foi Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, dentre algumas medidas foi o de 100% de aumento do salário mínimo e outras medidas para melhorar as condições dos trabalhadores

Em 1955 Jango foi eleito vice- presidente da República durante o governo de Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros, naquela época a votação para presidente e vice era desvinculada. Jango estreita o diálogo com os sindicatos, e inaugura com Juscelino a nova capital do Brasil, Brasília, cidade projetada pelo famoso arquiteto Oscar Niemeyer. Em 1961 Jânio Quadros renuncia e conseqüentemente Jango deveria assumir o cargo de presidente, e então, os militares tentam impedir Jango de assumir o poder sob acusação de comunismo.

Em Porto Alegre, o Governador do Rio Grande do Sul e também cunhado de Jango, Leonel Brizola, por meio do rádio incita toda população e militares a fazerem um levante armado para preservar a posse de Jango, essa mobilização civil e também militar ficou conhecido por Campanha da Legalidade. Com apoio da população e dos militares que concordavam com Brizola, Jango conseguiu assumir como presidente, mas sob o regime parlamentarista, que limita o poder presidencial, primeira vez na história do país que isso aconteceu, teve como primeiro ministro Tancredo Neves. Em Setembro de 1961 Jango foi empossado presidente.

Em 1963 um plebiscito retornou o presidencialismo, devolvendo a João Goulart totais poderes de chefe de governo. Durante o poder reatou relações diplomáticas com países socialistas e comunistas para melhorar a política externa do Brasil, além criar políticas públicas em favor das classes mais pobres.  Em 1963 é aprovada a previdência social para trabalhadores rurais e 13º salário para o funcionalismo público, sendo isso apenas um dos demais projetos do governo.

Jango em 13 de Março de 1964, em comício na Central do Brasil no Rio de Janeiro anunciou as reformas de bases de que pretendia realizar. A oposição combate Jango ferozmente, e no final daquele mês, em contrapartida, aconteceu em São Paulo a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, objetivando mobilizar a opinião pública contra o governo federal, pois alegavam que Jango levaria o país ao sistema comunista. Fatos parecidos com o que ocorreu também com Getúlio Vargas quando presidente.

Essa agitação levou teve conseqüências que mudaram o rumo da história. O exército conjuntamente aos governadores estaduais de Minas Gerais, São Paulo, a marinha e aeronáutica se torna protagonista de um golpe militar que depôs João Goulart da presidência em 31 de Março de 1964. Nesse momento inicia o exílio de Jango e a Ditadura Militar no Brasil, a qual se pretendia ser temporária, somente findou em 1985. O Ato Institucional número um publicado pelo governo militar em Abril de 1964, o AI- 1 cassou os direitos políticos de João Goulart.

O exílio

João Goulart teve seus bens confiscados por alguns meses após o golpe militar, saiu às pressas de Brasília em direção ao Rio Grande do Sul, e posteriormente exilado com a família no Uruguai. Nesse período histórico, a agitação política esteve presente em alguns países latino americanos, em razão disso, em 1973 o Uruguai também sofre um golpe militar e Jango passa a se preocupar com a segurança familiar e muda-se para Buenos Aires, na Argentina até o golpe de 1976, quando pelo mesmo motivo anterior, passa a residir na zona rural.

Durante o exílio na Argentina, Jango se tornou fazendeiro novamente, na ocasião aproximou-se mais dos filhos e da esposa, estava proibido de visitar o Brasil e por isso, recebia alguns amigos e familiares brasileiros. João Goulart morreu aos 58 anos de idade, no dia 06 de Dezembro de 1976 em solo argentino, segundo informação oficial o motivo do falecimento foi problema cardíaco.

O Governo Militar brasileiro não decretou luto oficial, mas permitiu que o sepultamento fosse realizado em São Borja. O registro jornalístico aponta milhares de pessoas, entre familiares, amigos, lideranças políticas e admiradores. O túmulo da família Goulart se encontra no Cemitério Jardim da Paz, em São Borja.

Referências

PILETTI, Nelson; ARRUDA José Jobson de A. Toda a história: História geral e história do Brasil. Editora Ática, 1995, São Paulo.

SILBER, Lucia Tedesco; HEROK, Maria Aparecida. Memorial Casa João Goulart. Lahtu Sensu, 2009, Porto Alegre. 

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